domingo, 3 de maio de 2009

Os benefícios da dança e do sapateado*

por Elisa Pritsopoulos
* Esse artigo é parte integrante da monografia de conclusao de curso de Licenciatura em Educação Física "Os benefícios do sapateado americano para um grupo de adolescentes" que será apresentada em junho de 2009, Universidade Federal de Santa Catarina.

Muito se fala sobre os benefícios de praticar atividades físicas em geral e de cultivar hábitos de vida saudáveis, mas a dança possui seus próprios benefícios, por estar aliada à cultura, e principalmente, por ser uma atividade abrangente e versátil, permitindo muitas abordagens em linguagens diferentes. “Pode-se considerá-la como uma fonte de conhecimento, pois a elaboração do conhecimento passa pelo corpo” (GARIBA et. al., 2007, p.82).
A dança contribui na coordenação motora, equilíbrio, ritmo, além de ser um espaço possível para a vivência da corporeidade, quando os praticantes podem expressar quem são, tentando buscar um significado para suas existências (VALLA, PORTO e TOLOCKA, 2006). Os adolescentes que participam do movimento do hip hop são “protagonistas de seu próprio processo educativo”, quando resgatam a educação como uma formação de “autores-cidadãos” (MAGRO, 2002, p. 63), afirmando suas personalidades através da dança.
O resgate da sintonia e harmonia com o próprio corpo são apontados pelos autores de um livro sobre empreendedorismo e dança, e isso pode ser conseguido através de vivências com ritmos variados em uma única aula, resgatando, também, o prazer e o lúdico. Por um lado, a idéia é que se aumente, de forma divertida, harmoniosa, proveitosa e saudável, o nível de qualidade de vida e de longevidade de pessoas que não conseguem questionar e analisar seus comportamentos, percepções e satisfações (GABRIBA et. al., 2007). Por outro lado Scarpato (2001) afirma que a dança na escola não deve priorizar a execução de movimentos corretos e perfeitos e sim: Deve partir do pressuposto de que o movimento é uma forma de expressão e comunicação do aluno, objetivando torná-lo um cidadão crítico, participativo e responsável, capaz de expressar-se em variadas linguagens, desenvolvendo a auto-expressão e aprendendo a pensar em termos de movimento (Idem, p.59).

Num estudo feito com uma deficiente visual de 27 anos, a qual freqüentou doze aulas de sapateado, com uma hora e meia de duração cada, constatou-se que o sapateado foi um meio para ela se perceber como sujeito, superando seus próprios limites aumentando seu poder de comunicação com o mundo. Outro resultado apontado foi a melhora do equilíbrio, proporcionando um melhor deslocamento na rua, evitando quedas. A aluna relata que, após essa experiência, passou a se sentir mais segura, independente e feliz (VALLA, PORTO e TOLOCKA, 2006).
Em outra pesquisa, crianças entre dez e onze anos freqüentaram regularmente aulas de sapateado, e as mães deram depoimentos sobre os benefícios e resultados das aulas. Foram destacados progressos no desenvolvimento na área motora e psicossocial. A mudança foi verificada a partir do início desta atividade quando as crianças foram observadas mais ágeis, concentradas e com mais disposição para outras atividades; inclusive na escola, como foi comprovado em alguns depoimentos (MARTINS, 2006). Esse relato de experiência mostra que o sapateado proporciona benefícios não só físicos (como emagrecimento, melhora da coordenação e equilíbrio), mas também melhora da concentração para atividades cognitivas e disposição para o aprendizado.
Xavier (2006) aponta como resultados de uma intervenção de dança clássica e contemporânea, com crianças e adolescentes em um grupo de risco de Florianópolis, a consciência crítica e participativa com aumento do grau de cidadania. Relata, também, significativas melhoras de relações: da pessoa com ela mesma, considerando as transformações corporais que acontecem, e da pessoa com o grupo, pois a dança permite uma criação de identidade formando um elo construtivo, em contraponto, por exemplo, com as drogas.
Em entrevistas realizadas por pesquisadores da UNICAMP, em julho de 2000, com adolescentes que praticavam o hip hop, apontam como benefícios dessa prática de cultura e dança: a criação, através desse movimento, de um espaço de referência para os jovens, onde podem desenvolver um sentido para a comunidade e um sentido de identidade realizado na experiência social, cultural e étnica (MAGRO, 2002).
Gariba (2002), fala sobre os benefícios proporcionados pela dança, como descritos abaixo:
a) ajudar na saúde mental;
b) alargar o ciclo social;
c) atuar no campo emocional, social e cognitivo;
d) tornar-se de acordo com a intensidade, em atividade aeróbia, trazendo benefícios cardiovasculares;
e) desenvolver a expressão corporal;
f) desenvolver ritmo; desinibir e favorecer o auto-conhecimento;
h) é uma atividade prazerosa;
i) estimular a circulação sanguínea;
j) estimular a espontaneidade;
k) incentivar a criatividade;
l) dominar o corpo em relação ao mundo exterior;
m) melhorar a capacidade respiratória;
n) melhorar a ansiedade, estresse, sedentarismo, liberando tensões acumuladas;
o) melhorar as relações interpessoais;
p) promover conscientização corporal;
q) proporcionar noção de espaço;
r) transmitir alegria;
s) auxiliar o desenvolvimento do raciocínio abstrato, do senso espacial, compreensão dos fatos históricos;
t) englobar conceitos, procedimentos, atitudes como área do conhecimento.”
-Os benefícios proporcionados pela dança. Fonte: GARIBA (2002, p 58).

Scarpato (2001) afirma, contudo, que o uso da dança na sala de aula não visa apenas proporcionar a vivência do corpo e diminuir tensões decorrentes de esforços intelectuais excessivos. Na medida em que favorece a criatividade, pode trazer muitas contribuições ao processo de aprendizagem, se integrada com outras disciplinas. O trabalho com o corpo gera a consciência corporal. O aluno questiona-se e começa a compreender o que passa consigo e ao seu redor, torna-se mais espontâneo e expressa seus desejos de modo mais natural, o que pode gerar resistências às práticas pedagógicas autoritárias, que ainda acreditam que o aluno só aprende sentado na carteira.
São infinitos e incontáveis os benefícios dessas práticas, atingindo todos os públicos, com os mais variados objetivos.
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Referências:
GARIBA, Chames M. S.; MICHELS, Glaycon; FRANZONI, Ana Maria B.; LAPOLLI,edis M. Empreendendo em qualidade de vida: O Profissional Personal Dance. Florianópolis: Pandion, 2007.
GARIBA, Chames M. S. Personal Dance: uma proposta empreendedora, Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.
MAGRO, Viviane M. M. Adolescentes como autores de si próprios: cotidiano, educação e o hip hop. Caderno Cedes, v.22, p. 63-75 Campinas, 2002.
MARTINS, Gisella M. A influência do sapateado americano no desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2006.
SCARPATO, Marta T. Dança Educativa: um fato em escolas de São Paulo. Cad. CEDES vol.21 no.53. Campinas, 2001.
VALLA, Denise C. R. M.; PORTO, Eline T. R.; TOLOCKA Rute E. Deficiência visual e sapateado: possibilidade de aprendizagem e busca da vivência da corporeidade. Disponível em: <
http://www.efdeportes.com/> Acesso em 04 nov. 2008. Revista
Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 99 - Agosto de 2006.
XAVIER, Jussara. Com a dança, no mercado e na política cultural. in XAVIER, Jussara; MEYER, Sandra; TORRES, Vera. (Org). Tubo de Ensaio: Experiência em Dança e Arte Contemporânea. Florianópolis: Ed. Do Autor, 2006.

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